Revirando meus arquivos, achei o diário, mapas ,fotos e a máquina fotográfica antiga que utilizei para documentar a trilha que fiz na Costa do Descobrimento no nosso querido estado da Bahia, lugar de buena gente, em 1999. Junto a toda essa "reliquia" antiga de uma década, estava o cd da banda Legião Urbana ,objeto de matéria que li no blog okylocyclo , em 19 de agosto de 2009 quando lembrei-me da música que tinha ouvido num barzinho em Porto Seguro. Lá se foram 11 anos que caminhei pela Costa do Descobrimento . Incrível como o tempo passa! permitam-me filosofar : "tempo é tudo que somos", afinal há tempo prá tudo debaixo do sol ,na praia e nas nuvens e acima delas. Todas as fotos foram tiradas com a máquina trip 100 da Olympus aí ao lado.Desculpem-me pela qualidade das fotos, que não é muito boa.Mochila nas costas , sonhos e algumas canções para alimentar a alma, e a mente ,partí para Bahia naquele dia, 15 de Outubro do longinquo ano de, 1999
REDESCOBRINDO A COSTA DO DESCOBRIMENTO
Prado à Porto Seguro (120 km)
Viajei cerca de 38 horas da minha cidade natal até Belo Horizonte no primeiro dia, no segundo de Belo Horizonte , atravessando o estado de MG à Itamaraju , já na Bahia outro ônibus até Prado aonde começou a longa jornada.
PRADO.Municipio situado no extremo sul do estado da Bahia,teve inicio numa aldeia dos indios descendentes dos aimorés, próximo ao arquipélago de Abrolhos aonde se avista as famosas Baleias Jubarte .
O ACAMPAMENTO IMPROVISADO. Cheguei ás 20H00 do dia 17 de Outubro e me dirigi até a Pousada do sr. Alcindo , só que, como eu não havia feito reserva, a pousada estava lotada ,acabei acampando na praia. Não foi um pernoite muito agradável já que os muriçocas incomodaram bastante.
A TRILHA DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL
TRECHO PRADO - CUMURUXATIBA. De acordo com os historiadores, foi próximo a Prado que Cabral de sua Nau avistou o Monte Pascoal . Seguindo com o objetivo de alcançar Cumuruxatiba no mesmo dia e com as próprias pernas, saí às 07h00, do dia 18 de Outubro. De Prado passei por diversas praias como da Lagoa Grande, da Lagoa Pequena até chegar a do farol. Pero Vaz de Caminha descreveu :
" A terra ... cheia de arvoredos...é tudo praia, muito chã e muito formosa...querendo-a aproveitar ,dar-se-á nela tudo , por bem das àguas que tem".
Rios de `aguas cristalina fauna , flora , pescadores , baianas com seus quitudes a oferecer na praia, igrejas e casarios antigos, e alguém que me perguntou se eu fumava(?)Só experimentei baseado uma vez , só que nunca gostei. Depois de 03h00 de caminhada ,como a maré tinha subido o único caminho era subir ,e ir por cima. Desse ponto para frente comecei a sentir os meus calos, decidi descansar próximo a uma chácara. Tirei um pouco o tênis que estava encharcado.Tirei as meias . E vi os calos de sangue nos pés. De repente uma rural que parecia aquela do Programa "Som da Rural" da TVBRASIL, e nela um gaúcho, que na realidade era um paranaense, que penalizou-se de mim e queria que fosse seu hóspede. Agradeci e pedi informação de como eu poderia voltar para a praia novamente. Ele pediu ao funcionário dele para me levar de volta para a praia de moto. Cheguei à Praia do Tororão. Bebi àgua , lanchei e prossegui a minha jornada do dia , passando por falésias maravilhosas , praias com areias brancas, pretas e amarelas, e até vermelhas. De Tororão até Cumuruxatiba , passei por duas praias : das Ostras , Japara Grande e o Rio Jalapão, de acordo com o que tinha escrito em meu diário.
VILA DE CUMURUXATIBA
A vila de Cumuru como eles chamam, é formado por descendentes de indios pataxós e familias de pescadores. Gostei tanto daqui que voltei em 2001, já com a minha noiva Fernanda.É um lugar muito tranquilo . Quando cheguei , decidi parar no primeiro quiosque que encontrei para tomar um suco natural. Em Cumuru tive duas experiências marcantes que narro abaixo:
1 - Chegando no dito quiosque, havia um rapaz sentado atrás do balcão que me criticou , dizendo que ,o que eu estava fazendo, era coisa de louco e começou a cassoar, dizendo : - Qual o objetivo de se caminhar tanto? Para mim isso é programa de indio! Expliquei para ele que fazia aquilo para me manter em forma e conhecer outros povos e cultura. Quando eu estava indo embora ele me disse" você está parecendo um papagaio andando em cima da própria merda ". Respondi: - Estou com calos de sangue embaixo dos pés. Quando terminei de falar ele se levantou, saiu detrás do balcão , pegou a muleta e foi embora. Hoje penso que agi bem em não ter sido áspero com ele."...Pronto para ouvir, tardio para falar...longe de vós toda cólera,e ira , e gritaria...".
2 - Me hospedei no Alberque da Juventude que quando voltei lá em 2001 já não existia mais. Havia uma senhora que trabalhava como recepcionista no Albergue que me convidou para ir ao culto evangélico . Fazia muito tempo que eu não participava de um culto protestante. O pastor pregou sobre a fuga do povo de Deus do Egito. Em uma parte do culto a bandinha começou a tocar um hino que eu gostava, e gosto muito, me emocionou e me fez pensar a respeito de muitas coisas da vida. Todos os crentes da igrejinha cantavam...
Graça magnifica , tão doce o som
Salvou um trapo como eu
Uma vez eu estava perdido, mas fui encontrado
Estava cego, mas agora vejo
Foi a graça que ensinou o meu coração a temer
E a graça aliviou os meus medos
Tão preciosamente apareceu aquela graça
Acreditei no primeiro momento
TRECHO CUMURUXATIBA - BARRA DO CAÍ ( 20 DE OUTUBRO DE 1999) . Depois de ter ficado 02 dias em Cumuru para descansar e "curar as feridas" continuei a minha caminhada solitária, às 07H00 rumo à Porto Seguro , mas , sendo que, até aí ,eu já tinha descoberto o meu "Porto Seguro". A caminhada foi muito tranquila , de Cumuru depois de cerca de 4 km, subi um pouco a falesia, e vi o Monte Pascoal. Na Ponta do Imbassuaba, comecei a sentir os calos , sendo que as paisagens maravilhosas de praias desertas fez com que eu esquecesse um pouco da dor. O sol era escaldante . Uma chuva nesse momento seria um alivio refrescante. Na praia o sol reflete na areia , o que torna o calor mais insuportável ainda. É como se estivesse caminhando no deserto.
Da Ponta do Imbassuaba , depois de ter descansado um pouco , continuei a minha aventura solitária. Depois de ter passado pelo Calambrião e por uma fazenda , encontrei os caseiros (o simpático casal Damiana e Domingos) . Dona Damiana estava com dor de cabeça e me perguntou se eu tinha algum medicamento para dar para ela , abri a mochila e peguei o primeiros socorros e passei prá ela um analgésico. Me falaram que logo teriam que se mudar daquele lugar, já que o fazendeiro estava pedindo a casa....não tinham lugar para ir . Chego finalmente na Barra do Caí .
BARRA DO CAÍ - HISTÓRIA A foz do Rio Caí é um dos lugares mais bonito da caminhada e também o de maior importância histórica. Foi nesse lugar que Nicolau coelho em 23 de abril de 1500 fez o primeiro contato com os indios pataxós. Aqui encontrei uma familia de turistas cariocas e um casal de gaúcho , tomei um chimarrão com eles que tiraram fotos minhas. Armei a tenda num local de camping quando o sol já estava se pondo. O caseiro me alertou com sotaque baiano : -"Arme a barraca afastada dos coqueiros homem! Os cocos costumam cair à noite vai que um cai na sua cabeça!".Pernoitei e no outro dia ,21 de outubro me despedi deles e continuei minha caminhada para Ponta do Corumbau.
Rio Caí (foto: edilson trekking)
TRECHO BARRA DO CAÍ - PONTA DO CORUMBAU (PARQUE NACIONAL DE MONTE PASCOAL E RESERVA INDIGENA BARRA VELHA), 21 de outubro de 1999 - Pedi para um pescador me atravessar para o outro lado do Rio Caí para continuar a minha jornada. O preço da travessia era de R$ 2,00(dois reais) ou $1,00(um dólar) . Depois de ter atravessado o rio comecei a correr , a areia do outro lado do rio era bem firme e firme também estava a minha musculatura depois de dois dias de caminhada. Corri cerca de 2 km na praia . Depois de 04H00 de caminhada cheguei a Ponta do Corumbau uma praia extensa , com um farol da marinha , alguns barracos na àrea em volta dele. Cheguei na casa do indio pataxó Claudio e pedi àgua para encher o cantil . Pedi permissão para armar a barraca num campo próximo à praia . Armei a barraca entrei dentro dela e dormi às 14:30. Acordei com gritos e uma bolada na barraca às 17h00. Alguém gritou : - O aventureiro acordou! Eram alguns rapazes jogando futebol no campinho ao lado. Levantei e fui jogar com a gurizada.
Depois da pelada fui até um mercado para tentar ligar para casa , chegando lá , qual foi a minha decepção. A bateria do único orelhão da vila tinha acabado. Saí triste do mercado e fui para praia e encontrei o pescador sr. Major que sensibilizado com a minha situação emprestou-me o seu celular . Liguei para casa mas o som estava truncado , quase não dava prá entender o que meu irmão dizia. Eu entendi que estava tudo bem em casa ele entendeu que eu também estava bem.Falei que assim que chegasse em Arraia D'Ajuda, ligaria prá ele. O sr. Major me disse que a cerca de dois dias um biólogo da Universidade do Rio Grande do Sul tinha passado por ali e iria até o Oiapoque pelo litoral.
Corumbau em tupi quer dizer: "longe de tudo"
TRECHO PONTA DO CORUMBAU - CARAIVA DISTÂNCIA APROXIMADA 12 KM( 22 de outubro de 1999) Peguei carona na canoa do indigena pataxó e seu filho(foto acima) para atravessar o caudaloso Rio Corumbau e continuei minha caminhada solitária . Dessa vez o objetivo do dia era Caraiva .
CARAIVA. Pequena Vila de Pescadores que , pela praia, fica a 65 km de Porto Seguro. Seria a metade do caminho da chamada Costa do Descobrimento.É um lugar de sossego.
Nesse dia foram 03h00 de caminhada pela praia. O tempo estava nublado. Eu só ouvia o barulho das ondas , o som da minha respiração ofegante e só via areia e falésias. Seis quilômetros antes da vila a entrada da aldeia pataxó próximo a vila tirei algumas fotos dos pescadores e seus barquinhos. Cheguei às 11h00 na pacata vila de Caraiva.
Caraiva
TRECHO CARAIVA - BARRA DO RIO DOS FRADES (23 de Outubro de 1999) Distância:16 km. Esse trecho da caminhada foi bastante cansativo, foram 05h00 de caminhada puxada . Nesse trecho a gente passa pelo rio coruipe e belissimas praias como Juacema e Toque Toque . Depois de Toque Toque , ao longo da trilha, pela praia surgem várias fazendas. Mas não há casas visíveis ,árvores alta de copa largas garantem a sombra o que ajuda muito o caminhante. Cheguei às 14h00 na casa do pescador Pereira , por lá já estava devidamente instalado o mochileiro argentino Ramon em sua barraca de color azul e blanco. Barra do Rio dos Frades ao fundo rio dos frades(foto). Eu e o pescador Pereira(um grande contador de piadas e histórias do local) . Nesse dia sorvi o mais saboroso café da minha vida antes de partir para Trancoso. O autor dessa foto é Ramon el argentino.
BARRA DO RIO DOS FRADES - TRANCOSO (24 de Outubro de 1999). Depois de ter me despedido do Sr. Pereira e familia e do outro hóspede da familia o argentino Ramon continuei minha "peregrinação" agora rumando para Trancoso. Passei pela chamada Ponta de Itaquena uma praia muito linda com muitas bromélias e outras plantas um verdadeiro show da natureza(foto).às 11h10 cravados, cheguei a cidade que já foi um ponto da contra-cultura nos anos 70. Almocei num restaurante onde a música ambiente era de Janis Joplin às 14h00 parti para Arraial d'Ajuda.
TRANCOSO-ARRAIAL D'AJUDA-PORTO SEGURO(24 de Outubro de 1999) De Trancoso prá frente as praias já são mais movimentadas com bares, pousadas, hotéis , restaurantes, casas de praia e o "Paradise Water Parque". Em Arraial eu peguei a balsa para Porto seguro onde encontrei três casais de mochileiros noruegueses. Um rapaz do grupo perguntou para onde eu ia em espanhol. Eu disse a ele que o meu destino era Porto Seguro e que depois iria para o Rio visitar uns amigos . Ele disse:
- Nosostros estamos seguiendo para Chapada Diamantina, somos de Noruega. - El ano que viene caminare por el sendero del Vale do Capão en chapada- eu disse a ele(s)
Ele se virou para os outros e traduziu tudo em noruegues.
Chegando em Porto seguro me despedi dos casais e fui direto para a pousada tomar banho e dormir um pouquinho. Adormeci no hotel acordando às 21h00 com uma fome tremenda . Fui numa lanchonete . Sentei e pedi panquecas ao molho branco e um suco de laranja o som ambiente era aquela música 1965(duas tribos) :
Quando querem transformar
Dignidade em doença
Quando querem transformar
Inteligência em traição
Quando querem transformar
Esperança em maldição
É o bem contra o mau
E você de que lado está?
Estou do lado do bem
Com a luz e com os anjos...
1989
O pastor e o mago
Certa vez um pastor perguntou para um mago milionário: O que é Deus para o senhor? O mago respondeu: Deus para mim é a natureza , as montanhas , a àgua , o fogo.... O humilde pastor disse: Deus não é a Natureza,o senhor está equivocado. Como assim ? Inquiriu o Mago. Deus é o ser supremo que fez a natureza respondeu o pastor.
Edilson Trekking
Nenhum comentário:
Postar um comentário